Há uns 3 anos atrás assisti a uma sessão de esclarecimento sobre adopção. Percebi que mesmo que as crianças que nasciam e viviam em situações complicadas eram retiradas ás famílias e que iam para instituições à espera que a situação da família estabilizasse. Uma criança nunca é retirada de uma família directamente para adopção. O tribunal ou a Segurança Social privilegia a família biológica antes da família adoptante. Dá-se sempre oportunidade à família biológica de criar condições estáveis para que a família continue junta.
Deram exemplos de situações e eu fiquei a perceber muita coisa… Fiquei a perceber que muitos miúdos estão em instituições em “stand by”… Muitos aguardam que a família crie condições para os ter de volta… Muitos aguardam serem adoptados… Há sempre a preferência pelos bebés e os mais velhos ficam sempre à espera… Que as famílias que querem adoptar também têm de ter algumas condições… E acreditem que não é só a condição monetária e a estabilidade… Mas há que ter uma preparação psicológica para adoptar uma criança que poderá ter muitos traumas… Isto são só alguns pequenos exemplos.

Hoje foi um dia especial! A pedido de uma amiga fui fazer voluntariado como palhaça numa dessas instituições, que acolhem crianças retiradas de famílias problemáticas… Umas aguardam adopção… Outras que a família estabilize para que voltem a casa.
Comentei com uma amiga minha e ela sem nunca ter feito animação ou “clown” quis ir comigo neste voluntariado.
Lá fomos nós hoje entregar uns “miminhos” que recolhemos de várias pessoas num apelo feito pelo Facebook pela Marisa Lopes. Ainda eu nem sequer tinha entrado e já ouvia da rua os miúdos a gritarem “Palhaços! Palhaços!”… A emoção era grande!
Senti uma responsabilidade enorme! Enquanto trocava de roupa com a minha amiga tremia… Tremia de emoção, de responsabilidade! A responsabilidade de tornar este dia o mais especial para aquelas crianças.
Enchi o peito… Respirei bem fundo e fui!

Let’s go party!
Foi tocante ver aqueles olhos brilhantes por cada balão modelado… O espanto pelo facto de eu não falar e de ter um apito na boca (uso uma palheta que pelas entoação que se dá e com gestos de mímica até me conseguem perceber)… Pediram-me para eu me sentar ao lado deles na hora do lanche… Da brincadeira das pipocas… Em que um dos mais “terroristas” me roubava as pipocas do meu prato só para eu lhe roubar as do prato dele. O do “contra” que se recusava a tudo e que poucas emoções sempre demonstrou… Ia-se rindo da brincadeira que eu tinha com o “terrorista” e que a meio da brincadeira e de alguma conversa que ia tendo com ele já dizia “sim” a algumas coisas (no início respondia “não” a tudo mesmo quando eu invertia as perguntas, tentando dar-lhe a volta ao seu “mau-feitio”)… No final ofereceu-me todas as pipocas que tinha no prato porque o “terrorista” mas comeu todas por duas vezes.
Eu vim de coração cheio! E espero que aquele momento tenha sido tão especial para eles como foi para mim.